
ANDRÉA Zanella, SC

Pintura em acrílica e massa sobre tela, 100 x 100cm, 2019
A VIOLÊNCIA DA BRANQUITUDE I E II
“Filhas de criação”, título da série de pinturas e colagens que compreende os trabalhos apresentados a seguir, é expressão comum no sul do Brasil e faz referencia às crianças que ficam sob os “cuidados” de uma família que não a originária. Aparentemente trata-se de uma boa ação, porém é uma cordialidade perversa em sua origem, como bem a descreve o historiador Sergio Buarque de Holanda. Em troca desse “cuidado”, de ser tratada “quase” como um membro da família, essas “filhas” executam tarefas domésticas sem serem remuneradas e sem acesso a outros direitos trabalhistas. Além da violência cotidiana que incide sobre seus corpos, quando os “pais” adotivos falecem as “filhas de criação” não são legitimamente reconhecidas como membros da família, o que significa que não têm direito à herança. Trata-se de uma forma de violência ainda vigente e que perpetua a lógica escravagista em nossa sociedade, subjugando corpos racializados ao poder da branquitude.